Vídeo
Denise Calasans
Vídeo 1’52’’
São Bento do Sapucaí- SP
Fev/ 2020
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Curadoria : Marisa Flórido César
Direção : Adriana Menescal
Fotografia: Claudia Mattos
Edição : Duda Las Casas
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Em tempos de pandemia e de isolamento social, temos a percepção de que estar invisível é condição de nos mantermos vivos. E, como efeito, viemos nos conectando muito mais através do mundo digital, nas lives e no universo virtual, como forma de compensar a distância. No confinamento, não podemos perder a chance de olhar para dentro, para as nossas frestas, nossas bordas, para aqueles lugares obscurecidos, para as sombras que o tempo veloz da cidade e do mundo contemporâneo não nos deixa encontrar na vida real. É a oportunidade de recuperarmos nossa memória ancestral e identificarmos o que é essencial em nossas vidas. A videoinstalação SOPRO retrata, de forma poética, a necessidade de nos reaproximarmos da natureza da qual nos distanciamos ao longo das eras. É um convite à imersão, à pausa, à contemplação, ao retorno à origem ancestral quando natureza e homem eram indissociáveis e não havia a humanidade inventada. Como um sopro de esperança, um sonho, sem resistência, apenas entregar-se floresta adentro. O sonho como experiência transcendental, como saída possível para os dilemas contemporâneos que nos abalam nesse momento. O zumbido de um inseto dispara, como um gatilho, o processo que conduz a artista ao desvanecimento de si na paisagem, mimetizando-se com a neblina. O tilintar/bater das asas do inseto, nos segundos finais do vídeo, por sua vez, desperta o espectador da breve embriaguez, como um corte no prazer extasiante da imagem. A artista acredita que ainda há tempo de nos reencontrarmos com aquelas camadas que ficaram de fora da gente chamadas ‘’natureza”, propondo essa experiência sensorial onde escutar o silêncio da mata e olhar para dentro de si nos devolveria aquilo que de algum modo ainda nos liga a NATUREZA, nos fundindo com ela novamente.
“Fomos nos alienando desse organismo de que somos parte, a Terra, e passamos a pensar que ele é uma coisa e nós, outra: a Terra e a humanidade.”
– Ailton Krenak, Ideias para adiar o fim do mundo, Cia das Letras
26 de março de 2022