Instalação
Caixas e aviamentos variados, colagens e pinturas
400 x 200 cm
2013
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Este trabalho é fruto da sensibilidade da artista ao se deparar com as contradições e paradoxos culturais da sociedade contemporânea. A humanidade, há algum tempo, parece caminhar em direção da homogeneização cultural, como solução para as desigualdades. Neste caminhar as diversidades são, em geral, subsumidas.
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Os indivíduos se revestem de camadas e embalagens (caixas) que aparentemente sugerem suas identidades, agregando as características dos produtos consumidos às suas personalidades de forma a parecer ser, o que não se é na essência.
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O acúmulo de resíduos geraram as obras plásticas aqui apresentadas, ressaltando ainda a preocupação com o reaproveitamento dos mesmos e com a infinita poluição ambiental do desenfreado consumo global.
O processo de captação dos materiais e a invenção poética perpassam escolha e acaso. Umas “garimpadas”, outras achadas. O resultado plástico pretende um olhar vagaroso e atento para percepção dos detalhes, engrenagens, daquilo que está por dentro. Surgem então, formas que nos remetem a imagem do relógio, do tempo e da memória das coisas. O que foi descartado (e “morreu”) renasce na obra em cada detalhe, valorizando a essência de cada um (de nós) dos objetos.
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As obras são criadas/construídas com o intuito de existirem de forma autônoma. São elaboradas uma a uma, na maioria das vezes, e eventualmente, são feitas pequenas alterações e/ou acréscimos quando, no conjunto, as questões pictóricas propriamente ditas se impõem ou se revelam imprescindíveis.
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Cada obra, embora, única, se potencializa e se irradia em cores, cantos e texturas a partir de um painel de (aproximadamente) 150 X 400 cm, amalgamado de colagens, costuras, cortes e relevos com novas leituras de materiais leves (botões, rendas, tecidos, papéis), agregando estampas prontas e fazendo intervenções com pinceladas e desenhos, estes construídos com materiais lúdicos do universo infantil*. Todas as obras partem do suporte/caixa.
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No conjunto, o excesso de elementos, o cromatismo exagerado e pulsante (aparentemente desprovido de harmonia) geram um sentimento de confusão e também de fuga daquele olhar cuidadoso inicial, das (dos) obras/núcleos expostos separadamente. A organização/desorganização generaliza a superfície pictural sobrepondo-se ao único e particular.
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Estas obras permitem uma multiplicidade de arranjos com vistas às potencialidades expositivas dos espaços que vier a ocupar, num diálogo com a arquitetura do local.
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Nem a artista sabe, ao certo, o quê irá mostrar, pois cada projeto/montagem permite configurações únicas alinhadas ao contexto de cada momento. A obra, no final, tem um caráter dual de ordem e impermanência.
14 de abril de 2022